quinta-feira, 28 de junho de 2012

Rio+20 = ?

Há os que achem que, no saldo final, a Rio+20 foi positiva pela mobilização popular - casos do Luiz Bento no Discutindo Ecologia e Alexandre Inagaki em Pensar Enlouquece.

Essa participação é legal, claro, mas não acho que compense a falta de decisões substanciais na reunião de cúpula. Em grande parte porque essa mobilização parece ser uma pregação aos convertidos - gostaria de uma pesquisa de opinião pública em contrário. Em parte menor porque, a se valer de outros eventos, essa mobilização perde muito de seu ímpeto no decorrer dos dias. (Seria legal se houvesse algum projeto de monitoramento de atividades que se desenvolvam a partir dessas atividades paralelas na Rio+20.)

Um tanto animador que os prefeitos do C40 tenham costurado um acordo para cortes nas emissões de carbono. A se ver. O Protocolo de Quioto, acordado entre países, não foi adiante - os níveis de produção de gases-estufa só aumentaram.

Na reunião de cúpula, sem metas, não há nem mesmo o que bem cobrar dos governantes. O documento final diz "reafirmamos" 59 vezes. Repetir o que já estava acordado em outros documentos não é um avanço propriamente. "Objectives" aparecem 13 vezes, "aim", 17 vezes, "goals", 39. A maioria para reforçar o que já havia sido decidido anteriormente.

Para o ano 2020 reafirma-se o objetivo de se alcançar um manejo consistente ("sound management") de "produtos químicos e lixo". O que seria esse manejo consistente não aparece (parág. 213). Para o mesmo ano, objetiva-se que metade dos países menos desenvolvidos atinjam os critérios mínimos de graduação - isto é, que saiam dessa classificação (o que já estava acordado no Programa de Ações de Istambul na 4a Conferência das Nações Unidas sobre Países Menos Desenvolvidos) (parág. 34). Nada sobre metas de emissões de CO2 - apenas a expressão da preocupação do aumento da produção de gases-estufa (parág. 191). Para o ano 2025, ações para reduzir detritos marinhos (prág. 163).


Encheram a sala de tanto bode que o máximo de avanço que se conseguiu foi não retroceder. Ok, vá lá, o reconhecimento de se fortalecer o Pnuma/UNEP (seção C. Environmental pillar in the context of sustainable development), mas nada de agência. Nada que se compare às três convenções assassinadaassinadas na Rio-92 ou à Agenda 21. Até a Carta da Terra tinha um tom de urgência que o Futuro que Queremos não consegue transmitir.


Desculpe, mas não acho que isso valha meio bilhão de dólares (ou mais de 80 vezes o que Dilma anunciou que o Brasil investiria no fortalecimento do Pnuma e mais de 50 vezes o que investiria na África em desenvolvimento sustentável). Aliás, alguém fez um levantamento de quanto carbono foi emitido em função da Rio+20 (entre deslocamentos e engarrafamentos gerados)? Sim, desconte-se o que Antonio Patriota pagou para neutralizar o carbono emitido em sua viagem. Como disse Claudio Angelo no Entre Colchetes: "A Eco-92 se repetiu como fraude".

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