sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Interpretando gráficos eleitorais

O blogue do Nassif publica texto do sociólogo Aldo Fornazieri analisando as eleições de São Paulo e, de passagem, comenta sobre os resultados das pesquisas de intenções de voto feitas pelo Datafolha e pelo Ibope.

"As pesquisas do Datafolha e do Ibope divulgadas nesta semana apontam para tendências contrárias. O Datafolha aponta para tendências de queda de Russomano e de Serra e de ascensão de Haddad. O Ibope aponta para tendências de queda de Serra e Haddad e de ascensão de Russomano. Ao que tudo indica, um dos dois institutos está errando."

Na verdade, as pesquisas apontam o *mesmo* padrão. E poderia até haver discrepâncias dentro do que o autor considera tendências contrárias sem que implicasse em erro por nenhum dos institutos.

Vamos para a primeira afirmação que fiz: o padrão é o mesmo. Vejam a figura 1.

Figura 1. Evolução das intenções de voto para prefeito em São Paulo-SP. Barra: margem de erro (fixa em 3%). RUS - Russomano, SER - Serra, HAD - Haddad; DF - Datafolha, IB - Ibope.

É difícil falar em tendência de queda de Russomano para os dados do Datafolha dos dias 4 de setembro de 2012 e 9 de setembro. Os jornalistas políticos falam em oscilação com essa variação dentro da margem de erro. Em termos estatísticos os dois pontos são equivalentes. Pelo mesmo motivo não dá pra falar em tendência de ascensão de Haddad. Além disso, o período de comparação entre as pesquisas do Datafolha e do Ibope são diferentes: as pesquisas do Ibope são de 30 de agosto e de 12 de setembro.

Os resultados de ambos os institutos indicam uma tendência geral de estabilidade no período por volta de 29 de agosto a 12 de setembro - com moderada tendência de fraca queda das intenções de voto a José Serra. (Figura 2.)

Figura 2. Evolução das intenções de voto para a prefeitura de São Paulo. Quadrados: Russomano; losangos: Serra; triângulos: Haddad. Tons escuros: Datafolha, tons claros: Ibope.

Falemos agora sobre pesquisas indicarem "tendências" contrárias.

Especialmente nessa situação de estabilidade ou quase estabilidade, por efeito de amostragem, os pontos podem variar casualmente - sem indicarem uma tendência real de subida ou descida. Digamos que Russomano, no período, tenha 32% das intenções de voto dos eleitores paulistanos. A primeira amostragem do instituto A poderia resultar em 30% das intenções de voto e a segunda, 34% das intenções de voto; para o instituto B poderia ocorrer  o oposto: 34% na primeira amostragem e 30% na segunda. E isso sem que tenha havido qualquer erro (e muito menos má fé). De fato, em 50% das vezes, um instituto terá um resultado que é numericamente inferior à média real, e, em outros 50% das vezes, o resultado será numericamente superior à média real. Então, para uma situação de estabilidade, em 25% dos casos, um instituto, em duas medidas, terá uma "tendência" de queda e, em 25%, uma "tendência" de subida. E uma probabilidade de 12,5% de indicar uma "tendência" contrária a outro instituto. Naturalmente, se as tendências indicadas permanecerem opostas (mesmo dentro da margem de erro) quando se tem mais e mais pontos de amostragem, aí sim teríamos algum problema.

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