sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Despedida de um amigo: Manuel Bulcão (1963-2012)

No blogroll à direita, o leitor notará que o blogue "A arte do conceito" não é atualizada há 5 meses. E a última postagem é "MANUEL SOARES BULCÃO NETO (1963-2012)" de 24 de agosto de 2012.

Quando subiu essa postagem, não quis acreditar no que o título implicava. Com uma poesia não explícita, imaginei que poderia ser alguma mensagem enigmática do meu amigo Bulcão.

Cheguei a postar um comentário lá, esperando esclarecimentos. Como não me responderam por um tempo, dei de ombros. Mas uma resposta foi postada vinte dias depois, por um outro amigo de Bulcão e que só agora vi - confirmando a perda lamentável.

"Caro Roberto Takata. Nosso amigo Bulcão morreu no dia 23 de agosto, poucos dias depois de completar 49 anos. Em "Sobre a Consciência", de As Esquisitices do Óbvio, ele escreveu: "Quanto ao homem, uma consequência do seu grande poder de previsão é, precisamente, a consciência da morte, da sua própria e dos seus entes queridos. E como, além de perseguir pequenos projetos cotidianos, o homem, contrariamente ao chimpanzé, também se guia por um projeto maior, um "projeto de vida", a morte - que, sabe ele, pode ocorrer a qualquer momento - sendo uma ameaça constante a qualquer plano pessoal que se tem como razão de viver, representa uma inesgotável fonte de angústia". 

E, no entanto, creio poder assegurar que o Manuel (a partir da conversa que tivemos na UTI, no último dia em que lhe foi possível ainda falar) não se encontrava angustiado, mas bastante tranquilo, perante a possibilidade tão iminente da morte; 'não estou com medo' foram suas palavras. 'A morte não é uma negação ou ruptura da vida, mas sua completude'. E ficamos nós, os amigos, muito menos tranquilos, pasmos diante dessa óbvia esquisitice, a despedida de Manuel Soares Bulcão Neto.

p.s: creio, Takata, que você gostará de saber o quanto Bulcão o tinha em consideração. Várias vezes ele o mencionou, e sempre com admiração."

Em sua curta carreira literária nos legou quatro obras:
- As esquisitices do óbvio (2005) - Ápex Editora;
- Sombras do iluminismo (2006) - Editora 7Letras;
- A eloquência do ódio (2009) - LivroPronto Editora;
Contra o princípio copernicano (2012) - Emooby.

Não são textos de leitura fácil - ainda que longe da obscuridade de textos acadêmicos de pretensa densidade -, mas são argumentos muito bem estruturados. São leituras que provavelmente tirará o leitor da zona de conforto. Se quiser contra-argumentar, terá que suar muito e munir-se mais do que de retórica vazia ou apreciação ligeira das formas.

Mas nessas horas... a gente só consegue pensar em como a vida é injusta em sua frieza insensível aos dramas humanos.

2 comentários:

André R.D.Baptista disse...

Não sabia também. Triste notícia. Era uma mente brilhante e irriquieta. Um amigo que nunca conheci pessoalmente, se isso é possível.

André R.D.Baptista disse...

Não sabia também. Triste notícia. Era uma mente brilhante e irriquieta. Um amigo que nunca conheci pessoalmente, se isso é possível.