quinta-feira, 14 de julho de 2016

Nossos japoneses são melhores do que os outros imigrantes?

Repostando o que publiquei alhures.
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Há um post no facebook bastante enganoso a respeito da imigração japonesa em relação a outras nacionalidades e, principalmente, em relação à condição do trabalhador escravo recém-liberto.
É bem verdade que a condição dos trabalhadores imigrantes livres nas lavouras eram muito duras - especialmente nas primeiras décadas - e com vários casos de escravidão por dívida. Mas praticamente não se compara com a situação dos trabalhadores escravos do Brasil colônia até pouco antes da Proclamação da República e mesmo da massa da população negra recém-liberta.
Uma das coisas é que o imigrante, de um lado, trazia algum conhecimento de ofício - muitos vinham de cidades, onde eram lojistas, artesãos, pequenos empresários... Muitos tinham algum grau de escolaridade.
Vários imigrantes acabaram fugindo das condições precárias das lavouras para as cidades, onde conseguiam exercer seu ofício. E com isso formavam pequenos grupos de ajuda e exploração mútua.
Outro ponto muito importante. O imigrante, bem ou mal, tinha sua situação monitorada pelo governo de seu país de origem. O estabelecimento dos imigrantes japoneses no Brasil foi completamente tutelado pelo governo japonês (Lei de Proteção aos Emigrantes - 1896) - a emigração foi uma política de estado do governo japonês, tanto como resposta a uma superpopulação no Japão como uma forma de expandir sua área de influência e de prospecção de recursos (fazia parte da política expansionista colonial do Japão que buscava se modernizar após a Restauração Meiji - faz parte do movimento que levou à Guerra do Pacífico durante a SGM).
Conquanto houvesse abusos na exploração dos colonos, o governo do país procurava impedir isso.
Mais um ponto. O trabalhador imigrante, via de regra, vinha com núcleo familiar formado. Bem diferente das condições de tráfico de escravos durante a era colonial e imperial.
Outro, ao imigrante era permitido a posse de bens - incluindo a compra de terras próprias. Em alguns casos, havia doação ou cessão do terreno para estabelecimento de colônias.P.e. em 1924, a Associação Ultramarina de Shinano comprou milhares de hectares no Noroeste de São Paulo para fundar um assentamento de trabalhadores japoneses.
A população negra recém-liberta não tinha apoio - ainda que débil de seu país de origem: no caso, o próprio Brasil. Não houve nenhuma compensação ou indenização ao trabalhador negro recém-liberto no ato da extinção da Escravatura. Praticamente não tinham posses. Poucos tiveram oportunidade de acumular capital intelectual e conhecimentos técnicos mais refinados e valorizados.
Os imigrantes japoneses sofriam com a forte discriminação por não serem brancos europeus. Mas não chegava a igualar a discriminação em relação aos negros. De todo modo, a condição socioeconômica - como posse de bens - protegia-os um tanto dessa discriminação.
É, assim, uma falsificação histórica uma comparação entre a situação dos imigrantes japoneses e dos negros recém-libertos que coloque os dois grupos em pé de igualdade. A situação do imigrante japonês era dura, mas muito menos precária do que a da massa de negros abandonados à própria sorte.
Sim, como a maioria dos imigrantes de outras nacionalidades, deram duro e puderam ascender materialmente. Não menos duro deram os negros, mas a barreira interposta sempre foi mais grave e com menos brechas.
Basta lembrar que a política de imigração brasileira tinha como objetivo o branqueamento da população nacional.
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