segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Das pesquisas eleitorais

Muitas pessoas falando dos erros das previsões das pesquisas de boca-de-urna para o resultado do 1o turno das eleições municipais realizadas dia 5 de outubro último. Inclusive gente séria como Alberto Dines. E a chiadeira não é novidade, reaparece a cada eleição.

Algumas coisas têm cabimento nas ponderações feitas: pesquisa não é destino, há margem de erro e erro além da margem de erro. Eventualmente tem sim manipulações - embora empresas que dependem de sua credibilidade procurem cercar-se de cuidados na produção dos resultados.

Por simplificação, os institutos de pesquisa e as empresas de comunicação dão para cada pesquisa um único número de margem de erro: os valores de cada ponto podem estar acima ou abaixo do valor apontado dentro da margem de erro. Alguns detalham e indicam que a margem de erro significa que, se 100 pesquisas fossem feitas com a mesma metodologia e com as mesmas condições, em 95 delas os valores estariam dentro dessa margem de erro dada. Isso é simplificação - na verdade cada ponto tem sua própria margem de erro, mas explicar isso pode demandar tempo demais ou espaço demais em um telejornal ou em um jornal impresso. Simplificado o quanto seja, isso não está tão longe assim da realidade. Aqui uma explicação mais detalhada.

Mas será mesmo que os institutos de pesquisa erraram? O caso mais comentado é o resultado do 1o turno em São Paulo. Na pesquisa de boca-de-urna do Ibope, Marta (PT) aparecia com 36% e Kassab (DEM), com 32%. No resultado oficial, Kassab ficou com 34% e Marta com 32%. Como pode isso?

Vamos observar a tabela com os resultados das pesquisas de boca-de-urna do Ibope com o resultado final computados pelo TSE:

Cidade Candidato (partido) previsão resultado
Belo Horizonte - MG Márcio Lacerda (PSB) 45% 44%
m.e. 3% Leonardo Quintão (PMDB) 38% 41%




São Paulo - SP Marta (PT) 36% 33%
m.e. 2% Kassab (DEM) 32% 34%

Alckmin (PSDB) 21% 22%




Rio de Janeiro - RJ Eduardo Paes (PMDB) 33% 32%
m.e. 2% Fernando Gabeira (PV) 23% 26%

Marcelo Crivella (PRB) 20% 19%




Florianópolis - SC Dário (PMDB) 43% 40%
m.e. 3% Espiridião Amin (PP) 23% 25%




Porto Alegre - RS José Fogaça (PMDB) 39% 44%
m.e. 2% Maria do Rosário (PT) 23% 23%

Manuela D'Ávila (PCdoB) 19% 15%




Belém - PA Duciomar Costa (PTB) 33% 35%
m.e. 2% José Priante (PMDB) 21% 19%

Mário Cardoso (PT) 19% 18%




Recife - PE João da Costa (PT) 54% 52%
m.e. 2% Mendonça Filho (DEM) 24% 25%




Curitiba - PR Beto Richa (PSDB) 78% 77%
m.e. 2% Gleisi (PT) 19% 18%




Salvador - BA João Henrique (PMDB) 31% 31%
m.e. 2% Walter Pinheiro (PT) 31% 30%

ACM Neto (DEM) 27% 27%




Fortaleza - CE Luizianne Lins (PT) 53% 50%
m.e. 2% Moroni (DEM) 25% 25%

Patricia (PDT) 15% 15%


Apenas quatro entradas (de 26) da tabela ficaram fora da margem de erro. Por uma proporção simplória de 5%, seriam esperadas 1,3 entradas fora da margem, mas pelo pequeno número de entradas, é possível haver esse desvio sem maiores problemas. A coisa começaria a ficar ruim se, por exemplo, 30 entradas de 260 estivessem fora. (Essa análise é simplória, pois, entre outras coisas, está a considerar a margem única divulgada nas pesquisas.)

Mas os resultados batem com quem vence no 1o turno e quem vai para o 2o. A única inversão na ordem é o caso de São Paulo que causou muita celeuma. Porém, se compararmos os números, Kassab, Marta e Alckmin tiveram votações compatíveis com os resultados da boca-de-urna: Kassab teve 34% e a pesquisa indicava que ele teria entre 30 e 34%. Marta teve 33%, não muito longe da margem estimada entre 34 e 38%. Alckmin com seus 22%, está bem dentro da faixa de 19 a 23%. Isso para uma taxa de acerto de 95%. É perfeitamente possível que os valores fiquem fora da margem - ficando complicado apenas quando fica muito fora ou muitas entradas ficam fora.

O que é surpreendente é, na verdade, o grande grau de aproximação entre a estimativa e o resultado final. Especialmente quando temos em mente que os entrevistados não têm obrigação alguma de dizer a verdade e revelar seu voto (cujo sigilo é um direito constitucional).

A proximidade entre os resultados da pesquisa e a totalização indica também que é pouco provável que tenha havido manipulação direta: tanto na pesquisa, quanto no processo eleitoral.

Há quem classifique a possibilidade de influência do resultado da pesquisa sobre o voto como manipulação - a respeitável opinião de Dines se aproxima disso. Eu discordo, se a pessoa deseja votar em quem está a frente, é direito dela.

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