terça-feira, 8 de novembro de 2011

PM na USP 2011 (2): A criminalidade caiu 92%, e daí?

Em maio, com a repercussão do homicídio de um estudante da FEA em um estacionamento da USP, houve uma intensificação da atuação da PM dentro do câmpus Butantã. Notícias chegaram a ser divulgadas sobre o aumento da criminalidade dentro da Cidade Universitária nos meses que antecederam o assassinato e a redução após o trabalho da polícia.

Com os protestos recentes que terminou na ocupação da reitoria por alguns alunos e sua posterior prisão, brandiu-se um número de que com a PM no câmpus o índice de criminalidade caiu 92%.

Não consigo evitar de levantar minha sobrancelha esquerda (ao menos metaforicamente, fisicamente não tenho tal habilidade) diante desses números.

Peguei os dados dos registros de ocorrência no câmpus principal compilados pela Guarda Universitária da USP - ela tem alguns problemas, por exemplo, não consta o homicídio do estudante mencionado acima, porém, creio que sirva de indicador geral das tendências. Abaixo está o gráfico com os dados desde janeiro de 2007 até setembro de 2011, que são os disponíveis no momento.

As linhas verticais indicam o mês de maio de cada ano. Eu digo que os números da PM são coisa bem marota. Quer dizer, provavelmente os índices caíram mesmo 90 e tantos porcentos depois que a polícia começou a atuar mais ostensivamente na USP/Butantã, porém a sugestão de que as duas coisas se relacionam é beeeeeeeeeeeeeeem discutível.

Os valores oscilam bastante durante o ano. E bem por volta de maio, quando ocorreu o terrível crime, há um pico de ações criminosas dentro do câmpus e, mesmo nos outros anos em que a PM não foi acionada, esse pico é seguido de uma forte queda. A PM comparou 80 dias antes e 80 dias depois. O crime foi em maio, ou seja, o período pós-homicídio inclui julho, período de férias, quando a circulação no câmpus cai bastante.

Fiz uma comparação para os anos de 2007 a 2011 somando os casos de furto qualificado para os meses de março e abril e para os meses de junho e julho de cada ano, as quedas são: 52%, 22,5%, 21,8%, 41,7% e 41,7%.

Desculpe, mas onde a ação da PM causou a queda mesmo?

Disclêimer: Não digo com isso que a presença da PM seja inútil. Eu mesmo sou favorável a que a PM opere dentro da Cidade Universitária (não que minha opinião importe).

10 comentários:

Francisco disse...

Ótima análise.

E só uma dúvida, antes do convênio com a PM, a PM já entrava no campus, sim?

Se sim, será que houve fases em que o policiamento ficou mais ostensivo (talvez devido a esses picos)?

none disse...

Salve, Francisco,

Sim. A PM se fazia presente no câmpus, sim.

Em fins de 2010, p.e., a PM foi chamada para fazer blitze por causa do aumento de furtos e roubo de carros (q nem sei se é certo falar q havia tal aumento de fato).

Mas, não, não há chamada da PM sempre que há um pico. E sua presença no passado não foi tão intensa qto neste ano.

[]s,

Roberto Takata

danilo79 disse...

Interessante. Então, pra ver se há relamente paralelo faltariam os dados da presença da PM mês a mês na Cidade Universitária.

Ou melhor, crimes e presença da polícia semana a semana (e não mensal) tanto na Cid. Universitária quanto no Butantã.

none disse...

Danilo,

Seria o ideal.

[]s,

Roberto Takata

C disse...

Se realmente há uma tendência sazonal de redução/aumento de criminalidade E a polícia não é efetiva, iremos observar um aumento na criminalidade nos próximos períodos. Até que essa previsão seja testada, não se pode concluir que a polícia não é efetiva pois, se ela fosse, esperaríamos observar justamente o que foi observado - um declínio - mesmo que este coincida com o declínio sazonal observado nos últimos 4 anos.

Independente dos resultados, violência se resolve é com > 10% do PIB na Educação. Apresento um abaixo-assinado que pleiteia que 30% dos royalties do pré-sal sejam destinados à Educação, Ciência e Tecnologia. Assim, quem sabe em 20 anos não precisaremos mais de uma polícia militarizada em nenhum lugar do país. Assinem:

http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoListaSignatarios.aspx?page=&sr=28161&pi=pl8051

none disse...

Candia-Gallardo,

Grato pela visita e comentários.

Vendo o gráfico, observamos que depois de maio, há aumento nos casos de furto qualificado em agosto.

De todo modo, não estou concluindo que a polícia não é efetiva. O que eu disse é que é discutível que a queda anunciada tenha sido causada pelo aumento da presença policial.

[]s,

Roberto Takata

Rafoga disse...

Muito boa a observação dos 92%.

Compartilhando da expectativa pelos próximos meses já levantada, acho que uma informação que deveria estar no texto é a de que o convênio com a PM foi firmado em SETEMBRO (mesmo mês em que acabam os dados do gráfico). Assim não nos permite verificar o pós-convênio mesmo.

Com os primeiros comentários: Se não me engano, a polícia faz o direcionamento do policiamento na cidade, nos bairros, de acordo com os registros de ocorrência nas delegacias. Assim, não é que seriam chamados mais vezes, mas seria reflexo da estratégia geral de policiamento na cidade. Quando aumenta o crime no local, há maior policiamento. Daí o crime diminui, o policiamento é redirecionado a outros locais. Com o descuido do policiamento, o crime volta a aumentar, assim por diante. (predador-presa, equação de lotka-volterra, mode: on)

Com o convênio por um policiamento mais ostensivo no local(com colocação de base, p.e.) essa estratégia mudaria. Quais serão os resultados do convênio? Acho que temos de esperar de 6 meses (que é +- o λ no gráfico) a um ano para poder tirar alguma conclusão inicial a respeito.

none disse...

Salve, Rafoga,

Grato pela visita e comentários.

A análise aqui não é sobre o efeito do convênio, já que os dados disponíveis até o momento vão justamente só até setembro e também porque o a tal redução de 92% se refere ao período que se segue ao homicídio em maio - que resultou na intensificação da atuação policial.

[]s,

Roberto Takata

Moacir disse...

Cara..

Não é querendo desmerecer seu trabalho.. porém.. a gente não pode usar como base dados que, segundo você mesmo, "tem alguns problemas, por exemplo, não consta o homicídio do estudante mencionado acima".

Se não houve o comprometimento com o dado de um homicídio que foi amplamente divulgado, imagine de ações criminosas 'do dia a dia'.

none disse...

Moacir,

A dúvida é válida. Mas como não estou analisando valores absolutos, os dados da vigilância universitária devem servir de bom indicador da tendência geral.

Valeu pela visita e comentário.

[]w,

Roberto Takata